História. Mais antiga que Belo Horizonte, Venda Nova foi pouso dos tropeiros que transportavam mantimentos para as minas de ouro
Apesar de pertencer hoje a Belo Horizonte, Venda Nova é mais antigo que a própria capital de Minas. Distrito da Vila de Curral Del Rey, pertencia a Sabará, assim como vários outros municípios da atual Grande BH.
Venda Nova foi fundada em 1711 como pouso de tropeiros que passavam pelo local e transportavam gado e mercadorias vindos da Bahia, seguindo o Rio São Francisco e depois o Rio das Velhas para abastecerem de mantimentos as minas de ouro.
O distrito de um modo geral tinha um certo peso político no século 19, pois elegia representantes junto às sedes. Também tinha o direito de sediar campanhas de Ordenança (policiamento), igreja, padre e até juiz.
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A religiosidade de Venda Nova vem desde os seus primórdios, dizem os historiadores. Já no início do século 19 foi construída a primeira matriz de Santo Antônio, padroeiro da região, que se tornou um elemento cultural fundamental para a tradição local.
O nome Venda Nova, desde os tempos do Brasil Império, deve-se ao grande volume de pontos comerciais. A lenda popular diz uma construção de uma venda maior e mais aprazível, em comparação a uma venda velha que existia no arraial, fez com que todos, moradores e viajantes, passassem a expressar algo como “vamos lá na venda nova”, sempre quando se referiam à localidade.
Na década de 1890, quando o antigo Curral Del Rey se tornou Belo Horizonte, Venda Nova foi integrada à a capital de Minas Gerais.
Em 1938, o distrito vendanovense passou a pertencer a Santa Luzia, deixando Belo Horizonte sem boa parte de seu território norte. Mas dez anos depois, Venda Nova foi desmembrada de Santa Luzia e anexada definitivamente à Belo Horizonte através de uma lei estadual.
Em 1962 houve até um movimento para que Venda Nova se tornasse um outro município, mas resistências políticas e religiosas da época impediram esta emancipação.
A região que já pertenceu a duas outras cidades antes se integrar a Belo Horizonte, hoje é uma das mais populosas da capital. E sua população deve se orgulhar em morar em um distrito autossuficiente, completo e desenvolvido, que sedia, atualmente, o centro principal da gestão estadual: a Cidade Administrativa. FOTOS ACERVO PBH
FONTES: PBH e GOVERNO DE MG
Atrativos. Região apresenta casarão tombado, segundo maior parque de BH e um dos maiores centros de lazer da América Latina
Aos 309 anos, Venda Nova é, ao mesmo tempo, uma região de Belo Horizonte e um distrito. A Rua Padre Pedro Pinto é o principal centro comercial da região e possui aproximadamente seis quilômetros de extensão, cortando a região até o município de Ribeirão das Neves. A Avenida Vilarinho, paralela com a rua Padre Pedro Pinto, é também um importante centro comercial.
Mas apesar de sua vocação comercial, Venda Nova tem suas referências, algumas históricas. Uma delas é a Paróquia de Santo Antônio, que fica na Praça da Matriz, e se encontra em obras.
A paróquia é a mais antiga da regional e passa por intervenções e demolições desde o século passado. Em uma delas, o famoso Padre Pedro Pinto, responsável pela igreja entre 1924 e 1953, demoliu o antigo templo de dois campanários e construiu outro no lugar, que veio a existir até o início da década de 2000.
Em 2015 começaram as atuais intervenções, já sob o comando do Padre José Alves de Deus (Pe. Zezinho). É uma obra arrojada e moderna. A primeira etapa já foi concluída, graças a doações dos fiéis.
Mas muitos eventos estão sendo executados pelos grupos, movimentos e pastorais paróquia, a fim de auxiliar na construção. A fase atual consiste na construção de três pórticos e 28 pilares que darão sustentação ao telhado. Esta etapa veio seguida da concretagem de 937m2 de laje, uma da etapas mais caras até o momento.
1-Casarão: Com características do século 19, o casarão mantido pelo Centro de Referência da Memória de Venda Nova é o único tombado da região. Foi construído para ser sede de uma fazenda nos tempos de Curral del-Rei. Seu interior possui tábuas de madeira, forro pintado de branco e piso de ladrilho hidráulico da varanda. Consumido por um incêndio em 2007, foi reconstruído com a ajuda da população. Além de ser uma bela construção antiga, o casarão possui salas, exposições de cerca de 300 fotos que contam a história da região e instrumentos da primeira corporação musical de Venda Nova, de 1925.
FOTO DIVULGAÇÃOJC/CRMVN
ONDE? Rua Boa Vista, esquina com Rua Padre Pedro Pinto
2- Sesc: O Serviço Social do Comércio de Venda Nova é um dos maiores centros de convenções e lazer da América do Sul, que abriga um grande complexo esportivo, cinema, dois teatros, biblioteca, galeria de arte, restaurante, um centro de convenções que atrai turistas de várias cidades. Seleções de futebol de vários países, inclusive a brasileira, já treinaram em um de seus gramados. Oferece ainda trilhas leves e divertidas, inclusive para as crianças. Este Sesc se destaca pela diversidade de atrações e por sua estrutura de hospedagem. As acomodações variam entre chalés e apartamentos dispostos em casas executivas e a recepção funciona 24 horas por dia.
FOTO TARCÍSIO DE PAULA
ONDE? Rua Maria Borboleta, s/nº
3-Centro Cultural: Foi construído com recursos do Orçamento Participativo e surgiu como um espaço de desenvolvimento e incentivo à cultura em Venda Nova. O local promove atividades de formação da cidadania e artística, valoriza e fortalece identidades culturais locais, além de viabilizar o intercâmbio entre grupos culturais da capital e de outras localidades. Com 500 m² de área construída, o espaço conta com biblioteca, sala de exposições, anfiteatro, auditório com camarins, administração e uma extensa área externa arborizada e ajardinada de 3.400 m².
FOTO DIVULGAÇÃO JC/CENTRO CULTURAL DE VENDA NOVA
ONDE? Rua José Ferreira Santo, 184
4-Parque Serra Verde: Segundo maior parque da capital (perde apenas para o das Mangabeiras), o Parque Estadual Serra Verde tem uma área de 142 mil m2. Próximo da Cidade Administrativa, ele tem grande importância na conservação dos recursos naturais da região, com diversas nascentes, lagoas e faz parte da cabeceira do Córrego Isidoro. Ele oferece atividades de pesquisa, integração com seu entorno e educação e interpretação ambiental, através de agendamento de grupos de interessados. Sua programação inclui passeios ecológicos guiados através de trilhas.
ONDE? Rua Cavalariça, 99
5- Shopping Estação: Inaugurado há sete anos, o Shopping Estação BH oferece um mix diversificado para compras, lazer e entretenimento. Em uma área de mais de 140 mil m2 há mais de 200 lojas que representam uma taxa de ocupação de 99% do empreendimento, gerando cerca de 2.000 empregos diretos e um fluxo diário de mais de 75 mil pessoas. Uma de suas atrações é o Teatro Estação Cultural.
ONDE? Av. Cristiano Machado, 11.833
Educação. Proximidade da Cidade Administrativa e de corredores importantes da cidade atraíram diversas faculdades para a Venda Nova
O desenvolvimento do Vetor Norte da capital, sobretudo com a construção da Cidade Administrativa e a mudança dos voos nacionais e internacionais (na marra) para Confins trouxeram um alento para Venda Nova. Principalmente na área de educação.
A região possui pelo menos 10 instituições de ensino superior com ofertas de diversos cursos de graduação, pós-graduação, extensão e ensino profissional.
A oferta de transporte, com a presença de uma das maiores estações do metrô dentro de um shopping e a transformação das avenidas Cristiano Machado e da Pedro I em corredores do Move (BRT) também foram gatilhos para que estudantes de BH e de cidades vizinhas procurassem as faculdades de Venda Nova.
As instituições, por sua vez, atentas à demanda aquecida fizeram unidade estruturadas, com opções variadas de cursos e com interação constante com a comunidade.
É o caso da unidade da Faculdade Pitágoras em Venda Nova que iniciou em 2019 um plantão psicológico, serviço gratuito de acompanhamento da saúde mental oferecido a alunos, funcionários e comunidade em geral até o final de novembro.
Na clínica escola, estagiários e professores do curso de Psicologia acolhem os pacientes e, a partir da escuta, fazem o encaminhamento para a psicoterapia ou demais setores. O espaço físico disponibiliza de 12 consultórios preparados para realizar os atendimentos.
O projeto atende cerca de 140 pessoas diariamente. Ao todo, são dois estagiários plantonistas por turno, supervisionados por professores.
A unidade Pitágoras de Venda Nova começou as suas atividades em 2007, através de três cursos tecnólogos. Com o crescimento da região Norte de BH são ofertados hoje 18 cursos, dentre tecnólogos e bacharelados.
Outra instituição presente na região é a Faminas BH, com a disponibilidade de 10 cursos, incluindo Medicina e Odontologia. Seu campus possui central exclusiva de atendimento ao aluno, auditório para 200 pessoas, teatro para 700 pessoas, 70 salas de aula, biblioteca com acervo atualizado de livros e periódicos, laboratório de simulação realística da região, restaurante e lanchonete, área de convivência e mais de 1.000 vagas de estacionamento gratuito para atender os alunos e colaboradores.
Já a mais antiga faculdade de Venda Nova é a Escola de Engenharia Kennedy, com 49 anos de fundação e que já formou 15 mil engenheiros civis nesta trajetória.
Na área do ensino profissional e também com alguns cursos de graduação, a região possui uma unidade do Senac desde 2015. A instituição é a primeira unidade da rede construída a partir de conceito sustentável: no local há 12 placas para captação de energia fotovoltaica, e conta com aproveitamento da iluminação e ventilação naturais, captação de água para manutenção do jardim e limpeza geral, e instalação de temporizadores nas torneiras dos banheiros e descargas econômicas nos sanitários.
Aos 80 anos, a aposentada Nilza Silva de Oliveira Miranda lembra como se fosse hoje dos momentos em que conviveu com o padrinho Padre Pedro Pinto que, de tão importante para Venda nova, é nome da principal rua da região. “Ele era uma pessoa muito caridosa e carinhosa. Gostava de ajudar as pessoas”, conta.
Quando perdeu a mãe, nos anos 1940, Dona Nilza foi morar com o padrinho, assim como vários sobrinhos que ele assumiu, com dedicação, a pedido dos pais.
“Ti Pedro”, como as crianças o chamavam, criou a todos sob os princípios da fraternidade e da fé, aspectos que fazem parte da vida de D. Nilza até hoje.
Nesta entrevista exclusiva ao JORNAL DA CIDADE, ela relembra, com saudades, do padrinho ilustre.
JORNAL DA CIDADE Por que a sra. foi morar com o Padre Pedro Pinto?
NILZA SILVA DE OLIVEIRA MIRANDA Ele era meu padrinho de batismo e minha mãe, antes de morrer, pediu para que eu fosse entregue ao meu padrinho para me criar, em 1943. Era comum isso na época.
Como foi a convivência da sra. com o Padre Pedro Pinto?
Ele teve muita influência na minha educação e na pessoa que sou hoje. Ele me incentivava muito, me ajudava nas minhas lições de latim, português e francês. Financeiramente ele não podia ajudar ninguém, pois era uma pessoa pobre. Naquela época, os padres não tinham salário e o que ganhavam vinha de doações dos fiéis e na celebração de missas.
Como era o Padre Pedro Pinto como pessoa e a relação dele com a família?
Ele era muito caridoso e carinhoso com a família, e com todos a sua volta. Porque o família dele morava no interior, perto de Congonhas do Campo, na Fazenda Três Barras, município de Santa Quitéria. E quando ele se formou foi nomeado vigário de São Braz de Suaçuí. Já naquela época, levou os sobrinhos para morar com ele, para eles poderem estudar e terem uma condição de vida melhor. E quando foi transferido para Belo Horizonte, trouxe um sobrinho de cada irmão e irmã com ele.
Como ele sustentava a todos se ele era uma pessoa pobre?
Ele tinha um pequeno sítio, onde plantava milho, feijão, batata e outros vegetais para o sustento dele e de todos que moravam com ele. Quando não estava na igreja, o padre vestia um guarda pó e um chapéu de palha e ia trabalhar na roça. Mas ele também recebia alimentos e outras doações dos fiéis das nove paróquias onde celebrava missa. E isso o ajudava muito também.
Como era a personalidade do Padre Pedro Pinto?
Tinha uma personalidade forte, mas era muito compreensivo, muito caridoso, gostava de ajudar todo mundo. Certa vez recebi um jornalzinho de um senhor de São Braz do Suaçuí, onde havia um texto sobre ele. Dizia – sem querer desmerecer outros padres – que o Padre Pedro Pinto foi o melhor e mais bem preparado pároco que havia passado pela igreja da cidade. Ele também era um exímio pregador.
A sra. acredita que o Padre Pedro Pinto era uma pessoa à frente do seu tempo?
Eu acho que sim. Só de pensar que os sobrinhos e sobrinhas deveriam estudar para ser alguém na vida já é uma visão moderna para a época. Além disso, ele foi o responsável pela povoação de Venda Nova, na medida em que doava pequenos terrenos que pertenciam à paróquia para que as pessoas construíssem suas casas. Então quando Venda Nova se formou de vez, ele se tornou muito querido.
A sra. se lembra quando ele morreu?
Sim, ele tinha 65 anos. Eu estava no colégio no dia e quando fiquei sabendo fui correndo para a casa paroquial. Ele tinha uma rotina de tomar café antes de ir para o sítio. Naquele dia, um senhor da comunidade (de nome Juvenal) apareceu cedo para comungar. Então o padre adiou sua refeição matinal para atendê-lo. Quando estava no confessionário, sentiu-se mal. Então o levaram para a casa até a chegada do médico. Padre Pedro Pinto rezava todos os dias depois da missa para não morrer de forma repentina, para que pudesse, antes, pedir perdão para Santa Bárbara e São Jerônimo. E suas preces foram atendidas, já que ainda ficou 40 minutos, após ter passado mal, antes de morrer. E por isso teve tempo para fazer suas orações com sua sobrinha Judith.
Como a comunidade reagiu com a morte dele?
Foi uma comoção enorme por toda Venda Nova. Deveriam ter umas 5 mil pessoas no enterro.
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