História. Santa Tereza foi ocupado por imigrantes italianos, portugueses e espanhóis que vieram trabalhar na construção da nova capital
Existem pelo menos três versões sobre a origem do nome do bairro Santa Tereza, segundo documentos da Fundação Municipal de Cultura da PBH. São elas: inspiração no bairro carioca de Santa Tereza; referência à imagem da santa espanhola Santa Teresa D’Ávila; e sugestão dos moradores para o letreiro do bonde que trafegava até o bairro.
Independentemente da procedência, Santa Tereza recebeu oficialmente este nome em 1928 e hoje se trata de um dos bairros mais tradicionais e históricos da capital.
Ele corresponde à área da sétima Seção Suburbana, planejada durante a construção da cidade. Um pedaço dessa região passou a fazer parte da Colônia Córrego da Mata. Depois, quando a colônia foi extinta, voltou a compor a 7ª Seção em 1911.
A ocupação da área acelerou-se na década de 1920, com medidas administrativas de loteamento e doação de terrenos a funcionários públicos, operários e militares.
Santa Tereza teve sua ocupação iniciada pelos imigrantes, principalmente italianos, portugueses e espanhóis que vieram trabalhar na construção da nova capital de Minas Gerais. Inclusive muitos dos moradores são descendentes desses imigrantes, pois uma das características de seus habitantes é continuar vivendo no local.
Ainda é possível encontrar imóveis do início do século XX, que guardam suas características arquitetônicas, como, por exemplo, o prédio do cinema e do bar Bolão.
Localizado na Região Leste de Belo Horizonte, o bairro é como uma ilha, pois está rodeado pelas avenidas Silviano Brandão, Contorno e Andradas, importantes vias de tráfego de veículos.
No dia 4 de março de 2015, o bairro foi tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte. Trezentos imóveis entre casas, igrejas, restaurantes, bares e praças compõem a lista de tombamento.
Santa Tereza ganhou fama de ser um dos mais tradicionais redutos boêmios da cidade graças às casas de serestas e bares.
O bairro também é famoso pelo seu Carnaval, caracterizado pelo desfile de tradicionais blocos de rua. Os principais são: bloco caricato “Satã e seus asseclas”, o bloco caricato “Os Inocentes de Santa Tereza” e o bloco ” Toca Raul ”
A beleza arquitetônica de suas casas antigas, a variedade de opções de diversão, as atividades culturais diversificadas, como as casas de seresta, as feiras de artesanato e a gastronomia atraem turistas e pessoas de todas as partes da cidade.
Um dos símbolos de BH é o Viaduto Santa Tereza. Construído em 1929, foi projetado pelo engenheiro Emílio Baumgart, um destaque entre os profissionais das estruturas de concreto armado no Brasil, para ligar o Centro até o bairro.
O arrojado viaduto foi imortalizado também em “Encontro Marcado”, obra do escritor mineiro Fernando Sabino, passada nas ruas da capital mineira.
Com 390 metros de extensão, 13m de largura e 14m de altura, o viaduto também foi tombado como patrimônio cultural na década de 90 e, integra hoje, o conjunto arquitetônico da Praça da Estação.
Principais acessos: Avenidas do Contorno, Andradas ou pela Silviano Brandão
Área: 0,808 Km
População: 15.607 habitantes
Domicílios: 6.330
Bairros vizinhos: Sagrada Família, Horto, Pompéia, Santa Efigênia e Floresta
Distância do centro: 15 minutos (de carro)
Aconchego. Verdadeira referência do bairro, Duque de Caxias abriga igrejas e um cinema histórico
Assim como as aconchegantes cidades do interior de Minas Gerais, Santa Tereza também possui sua praça, que é a principal referência do bairro, repleta de histórias e atrações.
É na Praça Duque de Caxias – criada em 1937, pelo Prefeito Otacílio Negrão de Lima – onde se localizam o Cine Santa Tereza, além das igrejas de Santa Teresa e Santa Teresinha. Esta começou a ser construída em 1932, mas apenas 30 anos a obra foi finalizada e consagrada.
A comunidade contribuiu sobremaneira para a sua construção, através de barraquinhas, rifas e outras contribuições, além dos órgãos públicos como Prefeitura e Estado.
Já o Cine Santa Tereza foi inaugurado em 1944, com a exibição do filme “O Conde de Monte Cristo”. Funcionou até os anos 1980, como boate e casa de espetáculos.
Reaberto em 2016, o prédio agora pertence à Prefeitura de Belo Horizonte. O MIS Cine Santa Tereza sedia diversas mostras de cinema, sempre com entrada gratuita. Em agosto de 2019, foi a vez de uma seleção de 21 títulos, entre cinebiografias e documentários, e cada um deles evidencia as muitas possibilidades das palavras na arte e na vida, abordando subjetividades e culturas.
Um deles – “O Poeta de Sete Faces” – retrata a vida e obra do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. O documentário de 2002 remonta a trajetória do escritor, os primeiros anos de sua vida, sua mudança para o Rio de Janeiro até o auge de sua carreira.
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Totalmente revitalizado e tombado pelo patrimônio histórico da cidade, o MIS Cine Santa Tereza é um espaço dedicado à sétima arte e às demais manifestações artísticas, em diálogo com o audiovisual.
Ele busca proporcionar a experiência individual e coletiva do cinema em sua sala de exibição, que oferece projeção digital em alta resolução de imagens. O espaço tem como um de seus eixos a democratização do acesso ao cinema e ao audiovisual, e vem atender à demanda da cidade e do setor cultural por espaços de difusão, circulação e criação artística.
Além da sala de exibição, o equipamento conta com um espaço multiuso dedicado a exposições e ações formativas, e com uma biblioteca pública. Ela é integrada à rede de bibliotecas da Fundação Municipal de Cultura e oferece acesso a diversos materiais de leitura e um acervo especial sobre cinema e audiovisual.
Fotos: Acervo PBH
ONDE?
Rua Estrela do Sul, 89
Funcionamento: De terça a sexta, das 10h às 21h; sábados e domingos, das 16h às 21h.
Contatos: pelo email [email protected] ou pelos telefones (31) 3277-4699 / 3277-8651 / 3277-4714
Acesse: www.bhfazcultura.pbh.gov.br
Turismo. Comida boa, casarões históricos e muita cultura fazem parte do DNA de Santê
Gastronomia, boemia, cultura, história, arquitetura. São muitas as palavras que podem definir o Bairro de Santa Tereza – e todas ao mesmo tempo. O bairro é um dos mais charmosos de Belo Horizonte e não é à toa que atrai moradores de outras regiões e também turistas que querem conhecer de perto onde surgiram os artistas do Clube da Esquina e do Sepultura, os filhos mais famosos de Santê.
Muita gente também é pega pela boca. E um dos responsáveis por isso é o Bolão. Inaugurado em 1961, o restaurante é ponto quase obrigatório para saborear o famoso macarrão – espaguete à bolonhesa – ou o “rochedão” – prato feito com arroz, feijão, batata frita, bife, ovo frito e espaguete à bolonhesa.
O Bolão tem funcionamento prolongado e, por isso mesmo a turma da boemia vai sempre lá beber a saideira ou forrar a barriga antes de ir para casa.
Seu menu inclui 398 pratos e em suas paredes estão muitos quadros de vitórias em festivais de gastronomia e 160 relógios e discos, muitos deles presentes de artistas que vêm ou moram na capital.
Mas há outras boas pedidas. Para quem gosta de massas e vinhos selecionados uma sugestão é a Parada do Cardoso. O sommelier da casa, Sérgio Pereira, apresenta para os clientes um universo de possibilidades para uma harmonização adequada.
A pizza Porco Atolado, por exemplo, tem como ingredientes molho ao sugo, muçarela, pernil desfiado, linguiça calabresa esmigalhada, abacaxi, cebola, catupiry, pimenta biquinho e orégano.
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Esses sabores remetem à típica gastronomia mineira e são destacados quando harmonizados com o vinho português Rapariga da Quinta. Isso porque ele é produzido com uvas típicas da região, de boa acidez, equilibrado e com final frutado.
Santa Tereza também chama a atenção pela arquitetura, com 16 imóveis tombados e mais de 300 em processo de tombamento. O bairro preserva um casario tradicional e histórico que remete ao início do século 20, ajudado pela geografia.
Não há grandes avenidas na área, o que lhe dá um aspecto de cidade do interior e com muitas pequenas ruas que se cruzam. E foi na esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis, onde nasceu, nos anos 60, o Clube da Esquina, movimento musical que revelou Milton Nascimento, Fernando Brant, os irmãos Marilton, Lô e Márcio Borges, Flávio Venturini, Beto Guedes, Wagner Tiso, Toninho Horta, 14 BIS, Tavinho Moura, entre vários outros.
Para homenagear esta turma, em 2016 foi fundado o Bar do Museu Clube da Esquina. Cerveja artesanal e drinques, petiscos variados, e shows de terça a domingo destacam o local que, claro, expõe fotos e objetos dos artistas.
Eclético, Santa Tereza também é berço de uma das maiores bandas de rock (thrash metal) do mundo, com mais de 50 milhões de discos vendidos. Sim, o Sepultura nasceu naquelas ruas em 1984, criado pelos irmãos Max e Igor Cavalera, que hoje já não integram mais o grupo.
Serviço:
Restaurante Bolão
Endereço: Rua Mármore, 681
Funcionamento: segunda a quinta, 7h às 3h; sexta e sábado, 7h às 5h30; domingo, 7h às 17h
Contato: (31) 3461-6211
Parada do Cardoso
Endereço: Rua Dores do Indaiá, 409
Funcionamento: domingo, das 18h às 00h; segunda a quarta-feira, das 18h às 00h. quinta-feira a sábado, das 18h às 02h
Contato: (31) 3468-0525
Bar do Museu Clube da Esquina
Endereço: Rua Paraisópolis, 738
Funcionamento: terça a domingo, a partir das 19h30
Contato: (31) 2512-5050
Jornalista e fotógrafo relembra os bastidores do festival da canção que pode ser considerado o início do famoso movimento musical, surgido em Santa Tereza
Texto: Luís Otávio Pires
Embora não seja músico, cantor ou compositor, o jornalista e fotógrafo Cristiano Quintino é a memória viva do Clube da Esquina, movimento musical que tem no bairro de Santa Tereza as suas raízes. Afinal, ele vivenciou os primeiros passos da turma de Milton Nascimento, Beto Guedes e dos irmãos Marilton, Márcio e Lô Borges, chegou a produzir a capa de discos de alguns deles, emprestando o talento de suas lentes.
Foram esses laços que levaram Quintino a escolher o Festival Estudantil da Canção Popular de Minas Gerais (FEC), realizado em 1969 como tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), quando se graduou em Jornalismo pela Faculdade Estácio de BH.
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Mas qual a relação deste festival pouco conhecido com o Clube da Esquina? Simplesmente tudo. “Pode-se dizer que foi o embrião para o começo do movimento criado em Santa Tereza. Onde eles começaram a se descobrir como artistas e perceber que poderiam mostrar sua música para o Brasil”, observa o jornalista.
Nesta entrevista exclusiva ao JORNAL DA CIDADE, Cristiano Quintino detalha seu trabalho, sua relação com os músicos e com Santa Tereza.
JORNAL DA CIDADE Como surgiu a ideia de fazer um trabalho sobre os primeiros acordes do Clube da Esquina?
CRISTIANO QUINTINO Primeiros acordes do Cube da Esquina foi o nome que eu dei depois da pesquisa para meu trabalho de monografia para conclusão do curso de jornalismo da Faculdade Estácio de Sá, em julho de 2008. Eu tinha dois temas para trabalhar na monografia. Um era sobre as aves da lagoa da Pampulha, porque na época eu estava fotografando junto com o músico Tavinho Moura, um projeto dele para fazer um livro sobre os pássaros da lagoa. Ele fez e eu fui para escanteio. E, graças aos Deuses surgiu as histórias do FEC – 1º Festival Estudantil da Canção Popular de Minas Gerais, em 1969. A ideia começou em 2006, era lançamento do livro “Palavras Musicais” do amigo Paulo Vilara no BDMG Cultural.
Conversando com o músico Toninho Horta falei deste festival, ele lembrou na hora e falou muitos detalhes, das duas músicas dele que ganharam terceiro e quinto lugares. Também estava lá o Túlio Mourão que viajou na ideia lembrando da sua música – que ganhou -, e me prometeu trazer o troféu que estava em Divinópolis. Mais ainda Tavinho Moura e Marcinho Borges presentes neste evento lembram da música deles que ganhou o 2º lugar.
O Márcio Borges ainda contou a história da letra; ele e Tavinho estavam na varanda tocando, quando seu pai o Salomão Borges trouxe o jornal com a foto da morte de Che Chevarra. Saí deste evento no BDMG e senti que o meu trabalho era resgatar esta história. Poucas pessoas sabem, mas foi nele que Beto Guedes e Lô Borges conheceram Tavinho Moura, Túlio Mourão e Fernando Brant, só para citar alguns. E que nos bastidores dos ensaios eles começam a descobrir os sons comum que depois virariam futuros parceiros.
Qual é sua ligação com os artistas?
Na época da FEC eu tinha 18 anos, a gente vivia de peladas de rua, namoradas e horas dançantes. Ao som de Janis Joplin, Jimmi Hendrix, Beatles, Rolling Stones, Genesis, Yes, Pink Floyd, Jorge Ben, Tom Jobim, Milton Nascimento, Zimbo Trio. Eu tinha uns primos que tocavam em hora dançante de boates, no Automóvel Clube. A banda chamada Vox Populi tinha o Marco Antônio Araújo na guitarra; eles entraram neste festival, por isso lembro muito e me emociona com essa linda história. Eu estava presente, junto com minha nova namorada, hoje minha mulher.
Só nos anos 1980, que comecei a trabalhar com esses músicos do Clube da Esquina. Fiz capas de Tavinho Moura, Lô Borges, Toninho Horta, alguns trabalhos com Beto Guedes, Gonzaguinha, e outros. Eu não só fotografava para eles, a gente fazia turnês e nas viagens criávamos várias ideias e ficamos companheiros de palco e bar. Os primeiros a me convidarem para fazer as fotos das capas dos discos foram Tavinho Moura e Lô Borges. Do Tavinho foi o disco “Engenho Trapizonga” e do Lô foi o “Sonho Real”.
Como foi o trabalho de pesquisa? E quais foram os maiores desafios?
Comecei pelo amigo Bob Tostes que foi o principal organizador deste festival, junto com o Ângelo Oswaldo. Lembrava de tudo, depois da entrevista com ele comecei a montar minha pauta e as apurações. E consegui apurar através de jornais da época, como o Diário de Minas que foi o patrocinador do FEC. O maior desafio se tornou o mais bonito da história, porque com cada músico que eu entrevistava, a frase era sempre: “eu não me lembro bem”.
Por que o festival Estudantil da Canção Popular é considerado a origem do famoso “clube” de 1969?
Eu considero como a origem. Porque depois das entrevistas com cada um deles, quando eu mostrava os jornais da época e as fotos, vieram as lembranças e aí pintou as histórias inéditas. Eles eram garotões também como eu, os festivais eram importantes para mostrar suas músicas e o que aconteceu que os bicudos se cheiram, durante os dois meses que aconteceu o FEC, vivenciados pelos encontros nos ensaios e nas apresentações, eles puderam mostrar suas músicas e expor seus talentos. E formaram um time de primeiro quilate de músicos.
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Eles se ouviram nos ensaios e depois do festival viraram parceiros. Músicas que concorreram como “Equatrorial”, de Beto Guedes e Lô Borges, “Clube da Esquina”, “Como vai minha Aldeia”, do Toninho Horta, entre muitas outras que viraram sucesso nacional. Depois de 16 de novembro de 1969, eles nunca mais foram os mesmos: se juntaram, formaram novos grupos, fizeram novas parcerias, e criaram discos originais e únicos.
Qual a importância da ligação dos artistas com o bairro Santa Tereza no processo de criação da canções?
Vou contar só uma história relacionada ao bairro Santa Tereza, porque lá era e é a casa da família Borges. E em relação ao festival também rolou uma festa, na minha opinião, que foi o start de várias parcerias. Acabou o FEC na Secretaria de Saúde, onde é hoje o Minascentro. Os caras foram para Santa Tereza na casa dos Borges. Dona Maricota, a mãe, foi fazer uma macarronada para essa galera de meninos. A casa virou um festa só, parecia até uma oficina musical, havia duplas de violão em cada canto. As panelas viraram instrumentos de percussão do Naná Vasconcellos.
Nesta festa estavam também Robertinho Silva, Novelli, Sirlan, Nelson Ângelo, Túlio Mourão, Marilton Borges, Tavinho Moura, Egberto Gismonti, Flávio Venturini e outros craques. Lá pelas tantas o menino Lô Borges, na época com 17 anos, sentou de frente para o piano, chamou o irmão Marcinho Borges e o Fernando Brant e disse: “acabei de compor essa música, vocês topam fazer uma letra para ela?”. Todos sentaram com atenção para ouvir. Marcinho foi para um canto e Fernando, sorrindo, pegou um papel de pão. Naquele momento surgiu a canção “Para Lennon e Mc Cartney”.
Foto: Arquivo Pessoal
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