BH Minha Cidade. Jornalista revela os motivos pelos quais essa região, que virou bairro, é tão encantadora
Quem mora em BH já sabe: tudo acontece na Savassi. Comércio agitado, ruas cheias de gente, lojas para todos os gostos e uma aura diferente que, para alguns, não existe em nenhum outro bairro da cidade.
Mas engana-se quem pensa que essa “fama” é atual. A Savassi é especial desde antes de ser Savassi. Não entendeu? O jornalista Jorge Fernando dos Santos explica tudo em seu livro, “A Turma da Savassi que virou nome de bairro”. Na obra, o autor revela que, muito antes de ser elevada ao status de bairro, a região ganhou esse nome por causa de uma panificadora – a Padaria Savassi – e de um grupo de jovens que fizeram fama pela cidade – a Turma da Savassi.
Após residir durante décadas em outro bairro da capital – o Caiçara – Jorge Fernando, hoje, é um orgulhoso morador do bairro cuja história ficou eternizada em seu livro. Nesta entrevista, ele revela alguns dos motivos que tornam a Savassi tão especial. Confira:
JORNAL DA CIDADE Por que escrever um livro sobre a história da Turma da Savassi?
JORGE FERNANDO DOS SANTOS A ideia foi do Pacífico Mascarenhas, que nasceu e morou na Savassi. Aproveitei para falar não só da turma que ele liderou, mas também contar a história da Padaria Savassi, dos colégios da região, dos cinemas e clubes da cidade. Na verdade, conto muito da história de BH, desde o tempo dos bondes.
Quais foram os principais feitos dessa Turma que fizeram dela tão importante a ponto de virar nome de bairro?
Era uma turma festeira e briguenta. Gostavam de fazer serenata e muita molecagem. Brigavam com outras turmas, frequentavam cinemas, zona de meretrício na Lagoinha, penetravam em festas em casas de família, frequentavam as missas dançantes do Minas Tênis. Alguns pulavam o muro do clube altas horas da noite para nadar. Mas tudo isso de maneira sadia, pois ninguém usava drogas e ninguém jamais morreu nos confrontos com rapazes de outras turmas da cidade.
Qual foi o fato mais curioso que você descobriu sobre a Savassi durante a produção do livro?
Foram muitos os fatos descobertos. Por exemplo, narro detalhes sobre a família Savassi, desde a vinda da Itália de Giácomo, sua esposa e seis filhos. O mais velho foi o introdutor do bicho da seda no Brasil. Outro, chamado Arthur, foi um próspero empresário em BH nos ramos de olaria e laticínios.
Foi ele que construiu o prédio alugado aos sobrinhos Hugo e Juca, que fundaram a famosa padaria. Aliás, em 1942, quando o Brasil entrou na guerra contra os países do Eixo, a Savassi e outras padarias de italianos foram depredadas e saqueadas na cidade – com a conivência do governo Vargas e do governo estadual.
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Você acha que a atmosfera da região na época retratada no livro – que era meio bucólica, quase mágica – ainda é a mesma de hoje? Ainda há magia na Savassi?
Claro que não. Não só a região da Savassi (que virou bairro em 2009), mas toda BH, mudaram muito e perderam aquela atmosfera bucólica, quase interiorana. A especulação imobiliária, o desrespeito com o patrimônio histórico, que resultou na substituição de antigas construções por edifícios de arquitetura duvidosa, muito contribuíram para que a cidade e os bairros se transformassem no que hoje vivemos.
A crise econômica, a violência, a falta de compromisso ambiental, o descaso e a corrupção das autoridades impactaram BH, como outras cidades brasileiras. Poderíamos ser uma cidade nos moldes de Paris ou Buenos Aires, que até hoje conservam aspectos históricos, que as transformaram em cidades agradáveis e contemporâneas, ao mesmo tempo.
Em 2006, a Savassi foi separada do Funcionários e ganhou status de bairro. Você acredita que demorou para essa decisão ter tomada?
Acho que a decisão veio no momento certo.
Hoje, você é um morador da Savassi. Qual a melhor parte de morar lá?
A Savassi é perto de tudo. Posso ir a pé à Praça da Liberdade, região hospitalar e centro da cidade. Temos livrarias de rua, eventos culturais, bares, gente bonita.
Se antes o point da Savassi era a Padaria Savassi, qual é o point de hoje? Que lugar é imperdível, aquele que nenhum visitante ou mesmo morador de BH pode deixar de conhecer/visitar?
Pro meu gosto são as livrarias: Quixote, Ouvidor (que ficam próximas) e Livraria da Rua, na Antônio de Albuquerque, 913. Aliás, o projeto Via Albuquerque criado pela Associação de Moradores e Amigos da Savassi, deu uma alavancada na região. Projeto idealizado pelo Nelson Galizzi, presidente da entidade, que pode servir de exemplo para outras vias da cidade. Gosto muito de ir ao Café da Casa Fiat e à Praça da Liberdade, onde fica o CCBB e outros pontos de cultura da cidade.
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