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Quando a pandemia fez o planeta parar, olhei pra minha história numa tentativa de frear o medo

16 de abril, 2020
Jornal da Cidade BH Notícia boa também dá audiência!

Coluna Amor de Mãe. Medo de deixar quem eu amo, medo de perder quem faz parte do meu caminho, medo de não saber o que fazer com as horas que repentinamente deixaram de ser tão cheias.

Encontrei sossego no ano de 2007. O ano que me transformou, que me mostrou o meu avesso. O ano em que fui mãe de quadrigêmeos. A gravidez de risco me levou pra cama logo nos primeiros meses de gestação. Peguei uma mala com poucas roupas e me mudei pra casa da minha mãe. Naquele momento, precisava de aconchego e cuidado. Busquei o colo que nunca falta.

Fiquei longos quatro meses sem sair da cama. Meu corpo precisava repousar pra que meus filhos pudessem sobreviver. Minha existência deixou de ser foco e eu passei a ser apenas um instrumento pra levar comida e oxigênio pra outras vidas. Tudo que dizia respeito a mim mesma ficou num canto qualquer: trabalho, vaidade, projetos, vida social… Ressignifiquei o meu olhar pra encontrar outros sentidos.

Fácil não foi. Eu dependia de ajuda pra tudo. Pra alimentar, pra tomar banho, pra fazer xixi numa comadre. Logo eu, que sempre fui tão independente! Sim. Logo eu.

O que me fez parar de forma tão avassaladora? A vida. As quatro vidas que eu gerava dentro de mim eram maiores do que qualquer ego, qualquer egoísmo! Eu aceitei e fui muito feliz naqueles meses em que o tempo correu de um jeito tão diferente.

Leia também: Coluna Amor de mãe: sobre adolescer

Em 27 de dezembro de 2007, eles nasceram: Vitor, Joaquim, Enzo e Francisco. Em um mês, enterrei dois filhos. Eu havia parado minha vida pela deles, mas não foi suficiente. Eles tinham que ter ficado mais tempo dentro de mim pra amadurecer os pulmões. Nasceram pequenos demais. Foram gigantes na luta pela vida, mas partiram deixando em mim um vazio que nunca foi preenchido. Nem será.

Doze anos depois, vejo, de novo, a existência se recolhendo dentro de casa. Mais uma vez, eu precisei parar pela vida. Não mais pela vida dos meus filhos, apenas. Mas pela vida de quem talvez eu nem conheça. Por tantas vidas que não sei nem as histórias. De repente, outra vez, tenho que me colocar em segundo plano, pelo outro.

Quando compreendi, acalmei o desassossego. Claro que tudo isso é percebido de lugares diferentes, por ângulos diferentes. Estamos impregnados pela nossa história, pela nossa condição social, influenciados pelos nossos orçamentos, pela nossa rotina, pela nossa religião e, sobretudo, pelos nossos princípios. As lições são também individuais. Mas, nesse momento, o soberano está fora de nós. É pelo outro. É por todos. É pra além de nós. Que a compreensão se faça em todos os corações.


Sobre Viviane Possato:

Viviane Possato, repórter e escritora, 43 anos. Jornalista com 20 anos de experiência em redações e assessorias de imprensa. Formada em Jornalismo (1998) e Relações Públicas (1999) pela PUC-MG. Cursou pós-graduação em Políticas Públicas (2005) e em Formação Política e Econômica da Sociedade Brasileira (2000). Trabalha como repórter de televisão há 17 anos e é colunista do Jornal da Cidade desde 2014.

5 Comentários

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    Connie Lorch 13 de junho de 2020

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    Claudia Mourão 21 de abril de 2020

    Vivi, sempre muito sensata e sensível! Palavras exatas pra uma reflexão neste período! Vc é sensacional! Orgulho demais de vc!!!

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    Alcione 19 de abril de 2020

    Que história linda; mas como você disse tudo vai passar. Deus é justo e está nos ajudando a ter paciência que não está sendo fácil, ficar dentro de casa confinado. Dá uma depressão e sem mais nem menos, tem dia que dá um desespero e choro muito. Mas vai passar.JESUS NO COMANDO!!!!

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    Marcelo 17 de abril de 2020

    Lindo texto. Gostaria de ler mais coisas suas. Vai passar.

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