Amor de Mãe. Quando liguei meu computador para escrever essa coluna percebi várias modificações na organização dos meus arquivos, no fundo de tela…
Respirei fundo. É que este objeto que sempre foi tão pessoal passou a ser compartilhado com meus filhos para as aulas on-line durante a pandemia. Não é mais apenas meu. Esse episódio me fez refletir sobre quantos espaços vamos nos permitindo perder ao longo dessa trajetória chamada maternidade.
O primeiro deles é durante a própria gestação, quando nosso corpo passa a ser morada. Meu corpo, minhas regras? Durante nove meses, definitivamente, não. Nossos contornos se modificam numa expansão que nos confronta com uma beleza diferente. O alimento não é mais para levar prazer e sustento à nossa vida e sim a uma outra existência, com necessidades que, por vezes, nem são nossas. Abdicamos de gostos e sabores. É apenas o começo.
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Parimos um filho e esvai-se o tempo que tínhamos. Nossos ponteiros passam a ser ditados por outra vida. Nos primeiros meses, fazemos por nós mesmas o que dá tempo no intervalo entre uma mamada e outra, quando eles crescem ajustamos nossos compromissos aos horários escolares e por aí vai. Quando olhamos para o relógio descobrirmos que sobra muito pouco para o que antes parecia tão essencial.
Já botou reparo no orçamento? Quanto nos sobra do que produzimos? Quanto resta para os nossos desejos? O que vai ficando para depois?
O dinheiro não é mais tão nosso, no tempo que nos cabe não cabem mais os projetos que tínhamos, o corpo até temos de volta, mas o coração, que nos é tão vital, torna-se eterno dependente de um compasso alheio.
O mais incompreensível é que assim, sendo tão roubadas de nós mesmas, nos sentimos mais inteiras. A vida se completa apesar do que eles nos tiram. Não se trata de um jogo de recompensa, em que entregamos e esperamos em troca. A troca existe, claro. Mas na maternidade o retorno não determina a capacidade de entrega.
Eu sou vigilante para não me perder de mim mesma. Vou cedendo e me cultuando ao mesmo tempo. Preservo os desejos mais latentes e volta e meia me resgato em algum canto. Sei que assim me torno mais forte na entrega. Maternidade tem dessas contradições. Existe uma complexidade danada nesse cordão umbilical que, quando cortado, se torna laço.
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