Solidariedade. Uma rotina comum no cenário dos grandes centros urbanos: crianças e adolescentes que passam o dia nas ruas vigiando carros estacionados para conseguir alguns trocados. Essa foi a situação vista por Magda Coutinho enquanto caminhava pelo Sion, o bairro em que ela mora, em Belo Horizonte. “Eu vi cinco crianças ali na rua e logo ao lado o parque JK abandonado, com as árvores morrendo. Então tive a ideia de convidá-las para salvar a praça comigo, e começamos a aguar essas árvores. Um mês depois, já havia 50 crianças comigo”, explica.
Magda Coutinho, fundadora da associação
O relato é de 1994. De lá para cá, o som da cidadania se tornou cada vez mais forte e fez com que Magda fundasse a Associação Querubins, para atender a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social da Vila Acaba-Mundo, uma comunidade que cresceu atrás do parque onde tudo começou. “Nós tínhamos na comunidade uma situação de extrema pobreza, porque não havia saneamento básico, nem todas as casas tinham energia elétrica, e comecei a trazer parceiros para dar um pouco de qualidade de vida a esses moradores”, relata.
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Mais do que cuidar do lugar, porém, a associação também se preocupou com as pessoas. Em 25 anos de história, várias foram as conquistas, a começar pelo espaço de 10 mil metros quadrados onde, todos os dias, a entidade sem fins lucrativos oferece atividades em dois turnos aos seus assistidos.
Hoje, cerca de 200 jovens de 5 a 18 anos de idade participam de oficinas de danças urbanas, dança afro, dança contemporânea, circo, artes visuais, percussão, construção de instrumentos, vídeo e cinema, além das oficinas de apoio escolar, cultivo de horta orgânica e jardinagem, esportes, informática, curso de culinária para crianças em uma cozinha-escola própria e capacitação profissional para jovens e adultos.
“Os jovens oriundos de comunidades de baixa renda precisam dessa oportunidade para que possam competir de igual para igual, e se não damos essa oportunidade, eles ficam muito limitados, porque a escola formal ainda é muito fraca. Acredito ser fundamental que o jovem tenha um projeto de vida, a criança pobre muitas vezes se sente desestimulada porque não vê oportunidade para ela no mundo, e é aí que a arte entra, para cobrir essa lacuna”, explica a fundadora da Associação Querubins.
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A arte, principalmente a música, é o carro-chefe da Associação Querubins, além das oficinas. A entidade conseguiu construir um estúdio de cerca de 70 m², onde os assistidos frequentam alguns cursos livre e também profissionalizantes na área de produção musical e audiovisual.
Além disso, o espaço é aberto para bandas da comunidade, que pagam um aluguel social para usar o espaço para ensaios e gravações. Algumas bandas famosas do cenário brasileiro são parceiras da associação, como Tianastácia, Jota Quest, Skank e Lagum.
“Acredito que a arte tem um poder grande de transformação, e quando você oferece a esses jovens a oportunidade de acesso a várias linguagens artísticas, eles desenvolvem um potencial maior que outros jovens que não foram educados por meio da arte”, destaca.
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Segundo a fundadora, os participantes são extremamente criativos, conseguem viabilizar a solução de problemas. Ou seja, além da transformação social, a arte abre para eles as portas para o mercado de trabalho. Muitos daqueles que passaram pela associação hoje trabalham com produção musical. Alguns são regentes de bandas, e 11 funcionários da entidade são ex-alunos das oficinas.
Parte desse desenvolvimento acontece graças ao projeto Som para Todos, desenvolvido com o apoio do Programa Criança Esperança, uma parceria da Rede Globo com a Unesco. Os recursos ajudaram a entidade a equipar o estúdio para que ele se tornasse totalmente digital e apto para receber os cursos de capacitação e os ensaios da comunidade.
“Esse apoio nos deu a oportunidade de alimentar os sonhos desse jovem da periferia, além da visibilidade do Programa, que proporcionou outras oportunidades, abriu um leque para que novos parceiros pudessem vir. E o que eu acho mais importante é que hoje eu sou porta-voz da credibilidade do trabalho do Criança Esperança”, acrescenta Magda.
A Associação Querubins segue o seu trabalho de ecoar pela comunidade do Acaba-Mundo o som da cidadania, e assim como a música, esse esforço não para nem nas barreiras físicas e nem nas divisões sociais provocadas pelos grandes centros urbanos.
A vontade da fundadora é que outras pessoas ouçam esse chamado e ajudem a propagar essa melodia de solidariedade. “Esses jovens serão o futuro do Brasil, e tenho certeza de que, se pudéssemos ter um Querubins em cada esquina, em cada comunidade, o País teria as condições necessárias para sair dessa situação crítica da questão social”, salienta.
Ela diz acreditar que projetos como o nosso podem oferecer a todos os brasileiros a esperança da mudança radical. “Porque a desigualdade social é um problema muito sério, mas que tem solução, basta ter boa vontade”, garante Magda.
Conheça outros projetos de solidariedade no JC (link).
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