Jornal da Cidade BH | Notícia boa também dá audiência!

Entrevista com Daniel Furletti

14 de dezembro, 2019
Jornal da Cidade BH Notícia boa também dá audiência!

Bate papo. Economista e advogado, há quase 40 anos trabalhando no Sinduscon-MG, comenta sobre o cenário atual da construção civil em Minas e no Brasil.

Com vasta experiência na área da Economia, com ênfase em Financiamento Imobiliário e habitacional, Daniel Furletti se destaca atuando, principalmente, com temas dos setores de custo e construção civil, inflação setorial e securização imobiliária. Além disso, Furletti também é coordenador Sindical do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).

Economista e advogado, Daniel concilia suas tarefas com a responsabilidade de ser professor assistente IV da PUC Minas (Departamento de Ciências Econômicas do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais – ICEG).

Nesta entrevista ao JORNAL DA CIDADE, o coordenador Sindical, revela, entre outras coisas, o que ainda é preciso melhorar no setor da Construção Civil.

JORNAL DA CIDADE De modo geral, como foi o ano de 2019 para a construção civil em Minas?

DANIEL FURLETTI Primeiramente, devemos fazer um acompanhamento não só da construção civil, mas da economia no período de 2014 a 2019. Em 2014, ambos entraram em processo mais recessivo. A construção civil teve uma queda muito maior (27,7%) que a economia (4,1%) no período.

Para Minas Gerais, a queda foi mais expressiva (29,4%). No segundo trimestre de 2019, assistimos a uma recuperação em relação ao primeiro trimestre do ano. O que levou a essa recuperação foi o ambiente macroeconômico, com a taxa de juros positiva em termos de redução (está prevista para 2019, segundo o Relatório Focus, do Banco Central, para chegar a 4,75% ao ano). Isso repercutiu muito na iniciativa da Caixa Econômica Federal de indexar os financiamentos imobiliários utilizando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e não a Taxa Referencial (TR), o que trará funding para o setor.

Tudo isso, aliado à inflação baixa e às reformas estruturantes previstas pelo Governo Federal, cria um ambiente mais produtivo para que a construção civil possa retomar seu papel na economia nacional.

Como o empresário da construção pode se preparar para 2020? Quais são as expectativas para o próximo ano?

As expectativas são bem melhores se analisarmos o que o mercado está precificando. O Relatório Focus prevê uma continuidade da queda da taxa de juros e da inflação baixa com crescimento da economia. A previsão para 2019 é de crescimento acima dos 0,87% de 2018 –mais precisamente de 2% para 2020 e 2,5% para 2021.

Como a construção civil é um setor cíclico, ela acompanha o movimento da economia. A perspectiva é que, com o crescimento econômico acima do dobro do registrado nos anos anteriores, logicamente teremos mais geração de renda e fomento de investimentos na área de infraestrutura em 2020. O empresário da construção, que é um setor que responde por mais de 50% da infraestrutura do país, acredita que o cenário que se vislumbra é mais positivo que os anteriores.

É possível pontuar o que precisa melhorar e o que se deve manter no setor da construção civil para o próximo ano?

O ambiente macroeconômico hoje está muito diferente do passado, com performances estruturantes e questão monetária sobre controle, tanto do ponto de vista de juros quanto de inflação. Por outro lado, temos de pensar em um cenário do ponto de vista negocial, com menos burocracia, mais segurança jurídica e celeridade nos processos. Assim, a construção civil, bem como todos os setores produtivos, poderá desempenhar bem o seu papel.

A construção tem importância socioeconômica muito grande. Social porque o produto que ela faz é necessário para as pessoas: temos um déficit habitacional superior a seis milhões de moradias. Além disso, são necessários hospitais, escolas, obras viárias etc.

Do ponto de vista econômico, o setor tem uma cadeia produtiva muito grande. Ao construir um edifício, você precisa de outros setores: aço, cimento, cerâmica, tubo PVC, vidro… Cria-se emprego direto na construção e indireto nos setores afins, além do chamado emprego induzido, que é aquele advindo do efeito renda —principalmente no setor de alimentação e vestuário. O trabalhador da construção civil e de sua cadeia compra pão, gerando empregos na padaria, por exemplo.

O Índice de Confiança do Empresário da Indústria da Construção de Minas Gerais – ICEICON-MG registrou aumento. Quais foram os principais motivos?

Em setembro, o Iceicon-MG mostrou um recuo de 0,6 ponto em relação a agosto, de 55,7 para 55,1. O índice tem uma linha divisória de 50 (quanto mais acima desse número, o empresário está otimista. Abaixo, pessimista). Neste ano, o Iceicon teve uma volatilidade grande, uma vez que atingiu, em fevereiro, 62,9. O ambiente era outro, claro, pois um novo governo foi eleito. Mesmo com o recuo, se compararmos com os anos anteriores, ainda sim continua refletindo certo otimismo. Os motivos dessa confiança são o nível de atividade, a intenção de compra de insumo e matérias-primas, novos empreendimentos. Essas expectativas corroboram com essa confiança.

Neste ano, o Custo Unitário Básico de Construção (CUB/m² – projeto-padrão R8-N) aumentou, 0,12% em julho por exemplo, em relação ao mês anterior. Qual o impacto desse aumento no mercado?

O CUB é um índice de custo da construção, e não de preço, e tem variado próximo da inflação. O preço de um imóvel é regido pelo mercado imobiliário. O custo não leva em conta, por exemplo, a sua localização. A mão de obra, por exemplo, tem um peso de 52% no valor de um empreendimento e, quando é reajustada, pode impactar desde a contratação até a negociação e o preço de venda dos imóveis.

Em âmbito nacional, é possível citar os entraves e as soluções para o setor?

Um dos entraves é esse ambiente de negócios e a questão de funding. Estamos com dois problemas: um é a questão do FGTS, que tem tido seu uso desvirtuado, principalmente em relação ao programa Minha Casa Minha Vida. O outro, que é mais específico para Belo Horizonte, é o Plano Diretor. Ele foi votado em julho deste ano e restringe muito a construção, criando impactos no setor na capital. O desemprego é o pior deles.

De que maneira a Reforma da Previdência pode influenciar para o crescimento da construção civil no país?

A reforma é importante para devolver ao Governo o papel de agente que propaga eficiência na economia. Ele gasta muito e mal. Tem uma carga tributária alta (em torno de 35% do Produto Interno Bruto – PIB), gasta o que tem e ainda fica endividado, sem recursos para investir – é o efeito missallocation. Essa reforma vai tirar o que é mal gasto do ponto de vista previdenciário, liberando recursos para que sejam investidos em áreas mais importantes, como obras, logística, saúde e educação.

Foto: Gladyston Rodrigues


Sobre Jader Theóphilo:

Jornalista, 24 anos, formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Atua como redator e repórter do Jornal da Cidade BH. É produtor de conteúdo e colunista semanal na Revista Zint, com foco em assuntos culturais, e colaborador do site Notícia Preta. Adquiriu experiencia com apuração e produção de jornais da Record TV Minas, atuou como apresentador, repórter e produtor, na PUC TV. Além disso, participou da produção de 3 programas semanais, na TV Horizonte, e foi analista de mídias sociais, na Horizon, marca mineira de roupas masculinas.

1 Comentário

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    Mirtes Oliveira 15 de dezembro de 2019

    Reportagem relevante e esclarecedora sobre para quem pleitea investir em imóveis ou simplesmente quer adquirir sua casa própria

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