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Trigêmeos

20 de setembro, 2018
Texto: Viviane Possato

Amor de mãe. Dia desses estávamos no interior de Minas, numa dessas cidadezinhas onde até o tic tac do relógio parece ter um ritmo diferente das metrópoles

No restaurante simples, com mesa de toalha xadrez, nos deliciávamos com um surubim ensopado quando Aninha, Enzo e Francisco tiveram uma ideia. “Vamos falar que somos trigêmeos!” “Mamãe, se o garçom perguntar, você pode dizer que somos trigêmeos?” E lá foram os três espalhar a “notícia” pelo restaurante.

Enzo e Francisco são gêmeos, têm 10 anos. Aninha, a filha que a vida me trouxe de presente, tem 9 anos. Eles são tão grudados que muita gente já me perguntou mesmo se são, de fato, trigêmeos. Mas nesse dia, vendo a vida passar mais devagar no interior, me peguei a pensar sobre esse amor.

Eles começaram a conviver bem pequenininhos, tinham três anos apenas. Cresceram juntos, em casas diferentes. Quanto mais o tempo ia passando, mais incompleta a vida ficava quando estavam distantes. Aninha mora no interior e vem pra gente a cada 15 dias. São filhos com a rotina, nem sempre fácil, de pais separados.

A cada 15 dias, a gente acorda mais feliz porque à noite a porta vai se abrir e lá estará ela arrastando a mala cor de rosa. A família completa é acalanto pro coração.

Lá no interior, meus olhos lacrimejaram enquanto observava os “trigêmeos”. Entendi que esse amor criou laços que jamais serão desfeitos. Não pari esses irmãos, o encontro foi acaso da vida. Mas, quer saber? A ligação sanguínea não faz falta. Eles me ensinaram que a conexão pelo afeto pode ser ainda mais forte. Eles se entendem irmãos, se percebem como irmãos, se amam como irmãos.

E lá vêm os três com sorriso no canto de boca. Felizes porque a moça do caixa acreditou na história dos trigêmeos. De longe, pisquei sem que percebessem e ela entendeu a brincadeira. Eu entendi também. Lá no coração, essa história tem sua verdade. E a verdade do coração é a que realmente importa.