Jornal da Cidade BH | Notícia boa também dá audiência!

Para os meus e para os seus

19 de junho, 2020
Jornal da Cidade BH Notícia boa também dá audiência!

Amor de mãe. Um provérbio africano diz que “é preciso uma aldeia para se educar uma criança”

A ideia central é que uma pessoa aprende e se desenvolve não apenas a partir do seu núcleo familiar. É preciso envolver a criança, o indivíduo, numa percepção mais ampla de sociedade.

Ando pensando o quanto estamos carentes de aldeia. Todos nós: filhos, pais, avós, tios, vizinhos, amigos, amores. É paradoxo pensar que o momento em que uma pandemia nos obriga ao recolhimento, ao isolamento, seja também o que mais precisamos olhar pra fora, pra além das nossas janelas. Poucas vezes na história a humidade esteve tão interligada. Gestos individuais, ou individualistas, podem representar estragos profundos na vida do outro. Um outro que nem sempre a gente enxerga.

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Podíamos sonhar que finalmente vamos aprender o significado de viver em aldeia. É lindo acreditar que as conexões serão cada vez mais verdadeiras, um entendendo e valorizando a importância do outro. Todos percebendo que a engrenagem não funciona sem o esforço de muitos. Como é acolhedor tentar enxergar um futuro em que as mãos se entrelaçam sem preconceitos, sem a arrogância do poder, sem a visão perturbada de que se pode ser superior ao outro. Sonhar com o entrelaçar de iguais que somos. Sairemos melhores?

Há ações aqui e acolá. Gente que se junta pra ajudar quem precisa mais. Solidariedade pra matar fome de comida, fome de cultura, fome de educação, fome de amor. Ufa, o coração acalma. Mas quero sonhar além. Pros meus e pros seus.

Em uma aldeia a gente não pode nunca perder o jeito de olhar pro lado. É do nosso lado que está o outro. Não atrás, não na frente. Ao lado. O outro é sempre diferente. Nem melhor, nem pior. Diferente. Somo seres únicos. Apenas únicos.

A quarentena vai passar e sonho com o dia em que voltaremos pras ruas saindo, de fato, de nossas bolhas. Acolhendo diferenças, respeitando o direito à liberdade do pensar, sendo sábios pra ouvir o contraditório, praticando a empatia, o respeito, a gentileza, entendendo que as realidades distintas precisam ser vistas e acolhidas porque somos todos parte da aldeia. Pros meus e pros seus, vou sonhar com uma grande teia que se conecta respeitando o tecer solitário (e necessário) de cada um. Pros meus e pros seus, vou sonhar com a aldeia do amor.


Sobre Viviane Possato:

Viviane Possato, repórter e escritora, 43 anos. Jornalista com 20 anos de experiência em redações e assessorias de imprensa. Formada em Jornalismo (1998) e Relações Públicas (1999) pela PUC-MG. Cursou pós-graduação em Políticas Públicas (2005) e em Formação Política e Econômica da Sociedade Brasileira (2000). Trabalha como repórter de televisão há 17 anos e é colunista do Jornal da Cidade desde 2014.

3 Comentários

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    Jatalon 21 de junho de 2020

    “…praticando a empatia…” –Congrats, Viviane, muito bom ler sua crônica!

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    Eduardo 19 de junho de 2020

    Show Viviane ✌😷🙏

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    Claudia Mourao 19 de junho de 2020

    Ela é mesmo sensacional! Sensível e amorosa! Muito orgulho!

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