Foi no dia 27 de janeiro de 2007. Lembro do minuto exato em que deixei de acreditar em Deus. Carregava meu filho, embrulhado em uma manta amarela. Agarrava meu bebê como se ele ainda fosse meu. Mas o coraçãozinho já não batia mais. Perdi o sentido quando a médica pegou o Vitor dos meus braços. Sim, era preciso.
Quando retomei a consciência meu colo estava vazio e não havia mais a crença que me sustentava. São incontáveis as vezes em que me ajoelhei com a cabeça erguida para o céu suplicando pela vida dele. Em vão. Chovia muito no dia em que me despedi do Vitor. Não dormi naquela noite pensando na terra molhada e no filho que não podia ser aquecido. Tempos depois, busquei satisfação na Igreja.
Procurei um padre na esperança de encontrar explicações. Sou jornalista. Não me aquieto fácil. Sai de lá do jeito que entrei. Sem resposta, sem crença. Perdi o Vitor quando ele tinha exato um mês. Um mês de luta pela vida. Transfusões de sangue, paradas cardíacas, cirurgias no coração, no intestino.
E uma dor avassaladora no peito de uma mãe impotente diante do destino. Quase onze anos se passaram e ainda lateja. Como dói desfazer os sonhos. Não sei precisar quando, mas no meu caminho de reconstrução voltei a ter fé. Um dia busquei no fundo do armário minha imagem de Nossa Senhora Aparecida, tirei delicadamente a poeira e a coloquei de volta no meu quarto, ao lado da cama.
O meu luto teve revolta, teve rompimentos, teve desconstruções profundas de crenças e valores. Acho que eu comecei a me refazer quando deixei para trás a busca pela compreensão exata das coisas. Foi na dor mais profunda que percebi que não temos domínio de nada e que uma manhã de janeiro pode desconstruir todos os seus sonhos. E que você vai precisar se refazer porque outros janeiros virão.
Parei de buscar respostas e o fim dessa peregrinação trouxe aceitação. Voltei a me ajoelhar no chão com a cabeça erguida para o céu. Só que agora chamo por Deus e por um anjo meu.