Carta para mim, por Viviane Possato. Oi, mamãe. Queremos dizer umas palavras para você. Sabemos da sua história, do quanto você sonhou com a nossa chegada
Deixar a rotina agitada para viver como chocadeira não é fácil não, né? Contamos o tempo com você. As horas passam devagar demais em cima de uma cama. Quatro meses praticamente sem se mexer. A gente sentia seus desejos: a vontade de passear, de ver a vida acontecer, de movimentar o corpo. Mas, você colocou todos eles em segundo plano porque sabia que precisávamos do seu corpo em repouso.
Aí chegamos te dando um susto danado! Você fez o que podia, mas apressamos nossa vinda. Claro, não estávamos prontos aos sete meses de gestação. Lutamos demais pela vida na UTI e tivemos você ao nosso lado em cada batalha. Ouvíamos suas cantigas de ninar ao lado da incubadora, percebíamos os sussurros da sua fé, enxergávamos suas lágrimas, mas, principalmente, sentíamos a esperança que vinha do seu amor. Lembra daquelas noites em que você se recusava a ir embora do hospital e dormia no banco do corredor? A gente sentia você por perto, mamãe.
Quando nossos irmãos morreram, pensamos que você perderia a força. Mas você nunca desistiu de nós. A gente se lembra de quando você sussurrou pelo vidro da incubadora: “existe muita vida à nossa espera. Lutem”. Lutamos e vencemos. A gente sabe o quanto doeu em você se refazer por nós.
Fora do hospital ainda tivemos muitas batalhas. Internações, cirurgias, corridas para emergência. Sustos! Muitos sustos! Incontáveis madrugadas em claro. Só nós três sabemos né, mamãe? Somos cúmplices nos choros noturnos. Mas sabe o que a nossa memória mais guarda daquele tempo? O sorriso que sempre surgia no seu rosto, mesmo que os olhos ainda estivessem cobertos de lágrimas.
As coisas andaram difíceis quando a gente cresceu um pouquinho, né? A separação, o recomeço…. Vieram outras muitas madrugadas em claro. Não mais para acudir o choro de cólica, mas para garantir o sustento. Testemunhamos o quanto você trabalhou para que não faltasse nada.
Mamãe, você nunca escondeu as lágrimas quando a vida se fez dura demais. Mas a gente aprendeu com você que quase tudo se refaz no amanhecer. Sua força nos aconchega.
Não, essa carta não foi escrita pelos meus filhos. Eles são crianças se ocupando da infância, como deve ser. Eu mesma escrevi. Para mim e para tantas mães, com tantas outras belas histórias! Não escrevo pelo pieguismo do discurso de merecimento não. Escrevo porque não me canso de achar lindo o tal amor de mãe. Escrevo porque cada linha dessa história me transformou profundamente e me fez melhor. Escrevo por reconhecer no meu peito a beleza de um amor incondicional. Feliz dia da mães!