Entrevista. Estevão Urbano Silva conversou com o JORNAL DA CIDADE para explicar alguns detalhes do comportamento dessa nova doença
O surto do novo coronavírus tem impactado diretamente na rotina de toda a sociedade. Porém, sua gravidade, seus sintomas e os vários cuidados com relação a essa nova doença ainda são motivos de dúvidas da população.
Para explicar o comportamento do vírus e esclarecer as principais perguntas a respeito do tema, o JORNAL DA CIDADE conversou com o médico infectologista e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva. Confira:
Qual a diferença entre o novo coronavírus e os vírus influenza, por exemplo, que provocam as gripes que já conhecemos?
Os sintomas clínicos do coronavírus e do vírus influenza que causa gripe são basicamente os mesmos. Esses vírus causam febre, dor de cabeça, dor no corpo, principalmente, dor de garganta, tosse e, nos casos graves, falta de ar por causa de pneumonia. Então, não há como distinguir um do outro, a não ser por exame laboratorial. Lembrando que, no caso do influenza, existe a vacinação. Está na época da campanha e as pessoas deveriam se vacinar para se prevenir dessa doença.
Qual a real gravidade do novo coronavírus?
O novo coronavírus tem se mostrado heterogêneo na gravidade, na mortalidade, conforme o país em que ele está passando. Se teve mortalidade de 2% ou 3% na China, mas essa mortalidade é menor na Alemanha e muito maior na Itália. Não se sabe ainda os fatores que estão fazendo com que essa mortalidade seja heterogênea. O grande problema são os indivíduos de risco. Principalmente os velhinhos, podem ter uma mortalidade altíssima, chega a 50% se eles vão para o CTI. Já nos indivíduos jovens, a mortalidade é muito baixa.
Após a contaminação com o novo coronavírus, em quanto tempo a pessoa começa a transmitir o vírus para outras?
O período de incubação, que é o período entre o contágio e a doença, que é quando o indivíduo começa também a transmitir, varia de 1 até 14 dias, mas é em média de 3 a 5. Então, mais de 90% das pessoas se adoecem e começam a transmitir o vírus de 3 a 5 dias após o contágio.
Sabe-se que há várias pessoas contaminadas com o novo coronavírus que não apresentam sintomas. Qual a melhor maneira de evitar que essas pessoas transmitam a doença?
O ideal para evitar que os assintomáticos não transmitissem o vírus seria fazer o exame de todo mundo e promover o isolamento daqueles que tivessem positivos para o coronavírus. Como esse teste não está sendo feito pela escassez, pela dificuldade de fazê-lo, neste momento, o ideal é promover uma quarentena, diminuir o número de pessoas circulantes – boa parte daquelas estarão com o vírus, mas não estarão transmitindo, exatamente pela quarentena. Foi o que deu certo em países como a Coreia e a Alemanha, que conseguiram controlar muito bem o vírus com essa estratégia de pesquisar os assintomáticos e colocá-los em quarentena.
Na sua opinião, considerando o ciclo do vírus que vem sendo observado, quando a transmissão e o número de contaminados começarão a baixar no Brasil?
As próximas duas semanas é que nos dirão, conforme a evolução dos casos, quando é que nós podemos começar a ter uma curva de declínio. No momento seria absurdamente irreal e aleatório fazer uma previsão do tempo da mitigação do surto. Então, esta semana e a outra serão fundamentais para a gente mapear melhor esse problema.
Seja o primeiro a comentar
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se identificar algo que viole os termos de uso, denuncie.