Entrevista. Diretora da Escola Americana de BH alerta para as diferenças do modelo praticado no Brasil e o internacional
A internet e a globalização aumentaram o interesse dos pais por escolas bilíngues para que seus filhos tenham uma vivência em um segundo idioma e estejam mais preparados para enfrentar futuramente o concorrido mercado de trabalho. Essa forte tendência educacional vem se consolidando a ponto de escolas tradicionais de Belo Horizonte passarem a implantar uma estrutura bilíngue.
De acordo com o último censo escolar do MEC, o Brasil tem cerca de 40 mil escolas privadas, 21% das 184,1 mil unidades brasileiras. A Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi) estima que, no máximo, 3% dessas particulares (1,2 mil) tenham hoje algum ensino bilíngue.
Na mesma proporção que a demanda vem crescendo, aumentam as dúvidas dos pais sobre as diferenças entre uma educação bilíngue e internacional, e como escolher aquela que será mais adequada às necessidades dos filhos.
Nesta entrevista ao Jornal da Cidade, a diretora da Escola Americana de Belo Horizonte, Catarina Song Chen, explica cada um dos modelos e os aspectos que os pais devem considerar na busca por um ensino mais universal.
Jornal da Cidade: Quais são as principais diferenças entre uma educação bilíngue e internacional?
Catarina Song Chen: A maioria das escolas bilíngues ensinam apenas a língua inglesa ou um segundo idioma que tenha sido adotado, durante aproximadamente 1 hora por dia ou até menos. Em algumas escolas bilíngues, estudantes costumam aprender o inglês isoladamente e não dentro do contexto de uma disciplina. Além disso, os parâmetros curriculares são os mesmos das escolas convencionais.
Já as escolas internacionais, como a Escola Americana de Belo Horizonte, seguem os calendários e currículos do país que adota, além do currículo nacional onde está localizada. Nossos alunos aprendem a língua inglesa e outras disciplinas em inglês, em horário integral. Os estudantes das escolas internacionais estão imersos em uma experiência de aprendizagem sob uma abordagem holística e não isolada, como algo separado ou complementar.
Podemos então afirmar que a vida escolar em um ambiente internacional e em um bilíngue é completamente diferente?
Certamente. Nas escolas internacionais, o plano de ensino vai além da grade estabelecida pelo Ministério da Educação. Além do conteúdo tradicional, como Português, História do Brasil e Matemática, oferecemos Empreendedorismo (Negócios/Finanças), Robótica, Programação, Arte, Música, Mandarim, Espanhol e outras.
O currículo é complexo e abrangente. Os alunos também aprendem sobre formação de caráter e outras habilidades interpessoais como cidadania digital. O objetivo é educar, transmitir conhecimentos, preparar os estudantes academicamente, mas também instigá-los a serem criativos, inovadores e reflexivos. Eles também aprendem a língua portuguesa, assim como outras matérias obrigatórias do currículo brasileiro, em português. Formamos cidadãos do mundo em um ambiente internacional, no qual 18 nacionalidades convivem diariamente.
Essa é uma experiência única que faz com que naveguem mundos diferentes e ampliem a visão de outras culturas, enquanto desenvolvem habilidades cognitivas e intelectuais.
Enquanto na escola bilíngue o estudante aprende dois idiomas, na internacional ele pode aprender até quantos? Como isso é trabalhado para que impacte positivamente no aprendizado?
Nas escolas internacionais, após os alunos dominarem as duas línguas, uma terceira e quarta língua (espanhol e mandarim) são introduzidas para que eles se tornem poliglotas até o momento da sua formatura. Pesquisas comprovam, assim como as nossas avaliações, que os nossos alunos têm uma proficiência maior em sua língua nativa quando aprendem uma segunda ou terceira língua.
Ter proficiência em múltiplas línguas contribui para o desenvolvimento da autoestima, das habilidades de resolução de problemas, habilidades interpessoais e lhes dá uma vantagem em relação a oportunidades profissionais e acadêmicas. Queremos que nossos alunos sejam grandes comunicadores.
Como a educação bilíngue e internacional podem impulsionar o futuro profissional do aluno?
O ensino bilíngue traz vantagens para a futura carreira do aluno, afinal é quase uma exigência de grandes companhias que o candidato tenha fluência em dois idiomas. No entanto, a melhor maneira de dominar uma outra língua é estar imerso no seu ambiente durante todo o dia, como um aluno vivencia em uma escola internacional.
Quais dicas você daria para um pai que está em busca de um ensino bilíngue ou internacional para o seu filho?
É importante considerar quais critérios servem para, efetivamente, avaliar a escola ideal para seu filho. A comparação entre boa e certa é comumente esquecida quando se procura uma escola. O que faz uma escola boa não necessariamente a faz certa para o seu filho, em particular.
A maioria das escolas se baseia em valores e missões estabelecidos. Se o currículo pedagógico e método de ensino e aprendizagem estão alinhados com a missão e visão da escola, então ela é boa, pois entrega o que promete. Pais que não estão dentro da atividade educacional podem não ter conhecimento prévio necessário para determinar a autenticidade desse alinhamento.
Para ajudá-los a avaliar a qualidade da escola, é recomendado que verifiquem credenciamentos, autorizações e afiliações. Somente essas premissas básicas não vão garantir que a escola seja a certa para o seu filho, então três elementos podem servir como referência: valores, currículo e ambiente. Os valores da escola devem corresponder aos de sua família.
O programa pedagógico deve estar alinhado com o ensino e a aprendizagem oferecidos e deve prover avaliações autênticas e rigorosas. E o ambiente em que você quer que seu filho estude é de extrema importância. Afinal, a maior parte da vida de um estudante se passa dentro da escola, portanto ele será diretamente afetado pela influência de colegas e pelo impacto dos professores.
É sempre importante nos perguntar: queremos formar cidadãos do mundo preparados para a vida ou apenas cidadãos com fluência em um outro idioma?